terça-feira, 12 de maio de 2009

MERA COINCIDÊNCIA

Cena de "O que teria acontecido com Baby Jane":

Juremir Machado da Silva, para Correio do Povo

É tanta coisa acontecendo em Palomas que não consigo mais falar de outros assuntos. Um homem apareceu boiando no lago de Palomas. Tentaram explicar o fato dizendo que não era lago, mas rio. Faz sentido. Muda tudo. A oposição denunciou um escândalo de caixa 2 no governo local. A Rede Baita Sol tratou de afirmar que eram denúncias sem prova, apesar de os denunciantes terem visto horas de gravação. Pois não é que agora uma revista estrangeira descobriu uma gravação onde o homem que morreu conversa com um colega e ambos admitem os fatos denunciados. A Rede Baita Sol estranhamente acha, outra vez, que é denúncia sem provas. E a gravação ouvida? E o depoimento da viúva do principal envolvido?
— Fedeu! – exclamou o principal defensor do governo.
— Essa gravação não prova coisa alguma – disse outro.
— É tudo requentado – declarou a principal interessada.
Candoca, o inocente, espantou-se. É um sujeito abilolado e sempre faz perguntas inconvenientes e bobas:
— Mas essa gravação não é justamente a prova que faltava?
— Cala a boca, idiota. Essa prova não tem valor jurídico.
— Por que não tem? É falso o que os homens confessam lá?
— Puxa, Candoca, tu és muito burro mesmo. Cala a boca.
— E o depoimento da viúva não serve para nada? Por que os dois estariam mentindo numa conversa só entre eles?
— Chega, Candoca. A viúva é louca, o morto tinha problemas emocionais e o outro não merece respeito. Além disso, os supostos doadores negam ter dado o dinheiro.
— Ah, bom! Por que eles iriam admitir? Depois eu é que sou burro! Tem cada coisa esquisita em Palomas. Credo!
— Candoca, Candoca, quer ir ver se estou na esquina?
— Se a oposição fosse governo, como no tempo do bigodudo, certa mídia não estaria pedindo o impeachment?
— A oposição não é governo, burro, pois ela é oposição.
— Quando teve o mensalão em Palomas, pediram o impeachment do presidente. Não se deveria fazer o mesmo agora? Não consigo entender a diferença. Que coisa!
— Aprende uma coisa, Candoca: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Só fale coisa com coisa, seu!
— Ah, é? Não teve uma agência de publicidade ganhando a renovação de um contrato após ter feito alguns favores?
— Candoca, seu idiota, isso é tudo mito. Não existem provas. E as coisas nunca funcionam assim em Palomas. Aqui, tudo é diferente. Somos mais éticos. Cala a boca.
— Está bem, mas eu só queria entender uma coisa: é possível inventar ou montar as vozes de dois homens dizendo o que eles não disseram? Ou as vozes não são deles? Mas a viúva não ouviu e confirmou? O repórter não comparou as vozes com as dos supostos donos delas?
— Candoca, desse jeito, vais arrumar sarna para te coçar.
— Não entendo. O problema não era que se tinha denunciado tudo sem apresentar gravação alguma? Pois agora que apareceu uma gravação, me diga, não era o que faltava?
— Candoca, definitivamente, tu não passas de um imbecil.
Qualquer semelhança dessa história com fatos reais é mera coincidência. Palomas não serve de parâmetro. Lá, os representantes da comissão de ética costumam se lixar para a opinião pública. Só em Palomas mesmo. Credo!

juremir@correiodopovo.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário