terça-feira, 10 de março de 2009

O PIOR DO BRASIL


Correio do Povo

Parece uma missão impossível designar o pior do Brasil. Eu não hesito: a mídia. Temos uma das mais conservadoras imprensas do mundo ocidental. Uma mídia maria-vai-com-as-outras que segue um único dogma: a moda. Ou a lei do mais forte. Nas últimas décadas, a mídia brasileira aderiu a todos os clichês sobre globalização e desregulamentação do mercado. Quem manda na mídia? O patrocinador. Muitas vezes, claro, o patrocinador é um governo. Aí o bicho pega de vez. Mas, mesmo quando o patrocinador não distribui dinheiro público, o quadro não muda. A mídia brasileira odeia movimentos sociais e reza pela cartilha dos donos do dinheiro que a financiam. Qualquer jornalista iniciante que deseje ascender na carreira vira imediatamente um neoliberal ferrenho.
Mesmo a Folha de S. Paulo, que passa por ser menos indecente, não escapa do furor conservador. Numa das derrapagens mais patéticas deste começo de século, a Folha de S. Paulo, em editorial, transformou o regime militar que enxovalhou o Brasil a partir de 1964 em 'ditabranda'. Só faltou declarar a sua saudade daqueles tempos de 'milagre econômico'. A verdade é que branda foi a relação da mídia brasileira com os milicos. O Estado de S. Paulo, que adora se mitificar lembrando que publicava receitas de bolo ou poemas de Camões no lugar de artigos censurados, foi um dos pilares da ditadura. Apoiou abertamente. O Estadão colocou luto pela morte de ditador chileno Augusto Pinochet. Uma tarja preta emoldurou a capa do jornal. A revista Veja nasceu durante a ditadura, segundo consta, com o beneplácito de Golberi do Couto e Silva. A Rede Globo, assim como, no outro terreno, a Varig, foi a grande beneficiada pela 'brandura' militar.
Nas províncias, especialmente naquelas em que o conservadorismo sempre esteve na ordem do dia, a imprensa se acomodou sem maiores complicações. Jornalistas enfrentaram a ditadura. Jornais, raramente. A imprensa tinha o álibi perfeito: que poderia fazer contra a força? Nada. Nem por isso precisava apoiar. O Grupo Folha, que hoje edita a Folha de S. Paulo, expandiu-se, sob o comando de Octavio Frias de Oliveira, graças às boas relações com a ditadura, que, sem dúvida, foi muito branda e generosa com os amigos. Passada a época de bancar o herói em segurança, durante a fase de redemocratização, no qual a mídia passou a rugir contra os ditadores, chegou o tempo de fazer as pazes com esse passado nebuloso. Pedro Bial alugou a sua pena de BBB para converter Roberto Marinho num espetacular estrategista em luta dissimulada (tão dissimulada que ninguém percebeu) contra o poder ditatorial brasileiro.
Agora, aparentemente com mais legitimidade, foi a vez de a Folha de S. Paulo contribuir para o revisionismo apressado que sonha em afastar o Brasil do paradigma que dominou o resto da América do Sul. Felizmente a Folha de S. Paulo tem um limite: o marketing. O termo 'ditabranda' pegou mal. O remédio foi dar abrigo aos artigos de intelectuais descontentes e não cercear as manifestações do próprio pessoal da casa, gente que tomou um susto com a recaída do jornal. Fez-se, no popular mais demagógico possível, do limão uma caipirinha. A Folha deu as costas ao látego e está faturando como jornal que se autocritica em praça pública. Branda é a nossa paciência com tamanho besteirol. A mídia brasileira é uma casa da mãe-joana.

juremir@correiodopovo.com.br

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