domingo, 9 de novembro de 2008

Vídeos, sexo e dinheiro: suíço chantageia bilionária alemã

Pescosansonesco:

Um caso policial que mais parece ter saído do cinema. O enredo se desenrola entre Mônaco, Munique, Zurique e Pescara. Os criminosos são italianos e um suíço. Uma das vítimas: Susanne Klatten, a mulher mais rica da Alemanha, herdeira do grupo BMW e Altana.

Segundo os autos das investigações realizadas pela Procuradoria de Pescara, o principal objetivo da quadrilha criminosa era subtrair vultosas somas de mulheres ricas através da compaixão despertada por histórias tristes ou, em último caso, chantagem. O dinheiro obtido era investido em restaurantes ou em imóveis no exterior.

O chefe da quadrilha era Ernani Barretta, um italiano de 63 anos. Originário de Pescosansonesco, uma pequena localidade nas imediações de Pescara, no sul da Itália. Ele é casado com uma suíça e vive nas proximidades de Zurique.

Como publicou o jornal dominical Blick, o italiano não é desconhecido da polícia helvética: já em meados dos anos 90, as autoridades o investigaram por suspeita de chantagem e fraude. Barretta, que se autodenomina chefe de uma seita, teria atuado diversas vezes como curandeiro de mulheres doentes, convencendo-as a dar-lhe seu dinheiro em troca de cura. O processo transferido para a Itália e acabou sendo arquivado em 2000.

Aparentemente, Barretta queria aumentar ainda mais sua fortuna. Com esse objetivo formou, em 2006, uma quadrilha com membros da família e Helg Sgarbi, um suíço que, como revelou a mídia helvética, já foi banqueiro do Credit Suisse e oficial do exército suíço. Sgarbi também já teria cometido outros delitos financeiros na Alemanha e na Áustria.

O "galã" suíço

A principal função do suíço na quadrilha era "paquerar" mulheres ricas em locais de luxo como bares de hotel. Com sucesso: com 1,85 de altura, louro, olhos azuis, de finos modos e inteligente - ele é formado em direito e domina seis idiomas – o suíço de 41 anos conseguiu conquistar três mulheres alemãs e ter com elas relações íntimas.

Uma delas foi Susanne Klatten, 46 anos, considerada a mulher mais rica da Alemanha – com uma fortuna avaliada em mais de 13 bilhões de dólares. Ela é filha de Herbert Quandt e de sua terceira esposa Johanna. Com a morte do pai em 1982, ela e o irmão herdaram uma grande parte da fortuna da família Quandt. Hoje, ela detém com seu irmão e sua mãe 46% do capital da BMW. Além disso, também é acionista majoritária do grupo químico Altana.

As outras vítimas também eram mulheres ricas. O que as três não sabiam é que, já nos primeiros encontros íntimos nos quartos de hotel, os cúmplices de Sgarbi estavam filmando tudo. Da quadrilha faziam parte também o filho de 32 anos e a filha de 35 anos de Barretta.

Compaixão e máfia

As gravações de vídeo só foram utilizadas posteriormente contra as vítimas. Em primeiro lugar, Sgarbi tentou despertar compaixão nas mulheres através de supostas ameaças. À Susanne Klatten ele contou que havia atropelado o filho de um membro da máfia nos EUA e que, como enviado especial do governo suíço para regiões em crise, não tinha condições de ressarcir os meliantes. Esta acreditou na história e deu-lhe sete milhões de euros. Já as outras duas mulheres deram 600 mil e 300 mil euros, respectivamente.

Porém a quadrilha ainda não ficou satisfeita. Logo após eles começaram a ameaçar as mulheres de tornar público os vídeos com as cenas íntimas rodadas nos hotéis. Uma das vítimas, que havia pago 600 mil euros, cedeu às pressões e desembolsou mais 1,5 milhões de francossuíços.

O suíço aumentou a pressão e exigiu de Susanne Klatten mais 40 milhões de euros. Mais tarde concordou em reduzir a soma para 14 milhões de euros. Para a entrega do dinheiro, um encontro foi marcado em 14 de janeiro em um povoado nas proximidades de Innsbruck, na Áustria.

Porém, ao invés de uma bolsa cheia de cédulas, Helg Sgarbi recebeu um par de algemas dos agentes policiais que o estavam esperando. Para sua infelicidade, a bilionária alemã havia decidido no início do ano ir às autoridades e dar queixa por fraude e chantagem. "A Sra. Klatten tomou essa decisão ao reconhecer que seu relacionamento com o Sr. Sgarbi tinha um fundo criminoso. Desde o início o objetivo dele era enganá-la para obter dinheiro", declarou um porta-voz aos jornais alemães.

Gravações e dinheiro desaparecido

Depois da prisão de Sgarbi, sua esposa manteve os contatos com o advogado de Klatten para esclarecer o paradeiro do dinheiro já pago. Porém, como revelou um jornal italiano, ela voltou a ameaçar de espalhar os vídeos íntimos.

Em fevereiro de 2008, Ernani Barretta e sua família foram presos na Itália. A polícia confiscou 1,7 milhões de euros, escondidos em vários lugares como vasos e gavetas secretas na luxuosa residência, além de dez carros de luxo - dentre eles Lamborghinis, Ferraris e um Rolls-Royce – duas mansões e um prédio residencial. Toda essa fortuna foi comprada graças aos sete milhões de euros dados pela dona da BMW e com os outros dez milhões retirados das duas outras vítimas.

A grande parte do dinheiro obtido - os jornais falam de mais de 20 milhões de euros – foram eficientemente levados pelos criminosos para fora da Europa. A fortuna teria sido investida no balneário de luxo no Egito, Scharm El-Scheich, e em outros projetos imobiliários na América Latina, assim como depositada em bancos e outros paraísos fiscais. Porém não existe uma confirmação oficial disso.

As autoridades descobriram que o italiano sempre estava presente quando Helg Sgarbi se encontrava com as mulheres ricas em hotéis de luxo. Os vídeos íntimos, desaparecidos até agora, foram rodados em grande parte em Munique e em Monte Carlo.

swissinfo, Alexander Thoele

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