quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Após 20 anos, influência russa volta à América Latina


Carlos Chirinos
Da BBC Mundo em Caracas

Desde o fim da Guerra Fria, a relação entre a Rússia e a América Latina já não é mais como no passado. Mas agora, 20 anos depois, a influência russa na região volta a aparecer.

O fim da União Soviética reduziu muito o espaço conquistado por Moscou nos anos 50 e 60, com o triunfo da Revolução Cubana.

Novembro de 2008 poderia ser chamado de mês da Rússia em boa parte da América Latina.

Comissões russas de alto escalão visitarão Venezuela, Bolívia, Equador, Cuba, Nicarágua e Argentina. O mês termina com a chegada do presidente Dmitri Medvedev à região.

Exercício naval

A visita presidencial também coincide com o momento em que a Rússia e a Venezuela começam a fazer manobras militares conjuntas no Mar do Caribe.

A estratégia da diplomacia russa na América Latina tem como objetivo relançar as "tradicionais relações" com Cuba e com a Nicarágua "sandinista" e aproveitar os novos governos de esquerda, como os de Bolívia e Paraguai.

Esse suposto viés "esquerdista" da renovada presença russa na América Latina é visto por alguns como uma potencial reedição das tensões da Guerra Fria, sobretudo para os que equiparam a Venezuela de Hugo Chávez à Cuba de Fidel Castro.

A Venezuela transformou-se no principal inimigo – até agora apenas na retórica – da política americana na região e também se tornou o principal sócio militar dos russos no continente, com compras de US$ 3 bilhões.

Mas também tornou-se um sócio importante no campo de energia, com grande volume de negócios entre a Petróleos de Venezuela (PDVSA) e as russas Lukoil e Gazprom.

Vocação

"A Rússia está seguindo com sua vocação geoestratégica e quando observam uma possibilidade de se afirmar no mundo, eles a usam", disse à BBC o ex-chanceler eslovaco Eduard Kukan.

Por sua experiência na Eslováquia, país que passou anos sob a influência da União Soviética, Kukan desconfia do aspecto militar da aliança venezuelana com a Rússia.

"Estamos vivendo tempos diferentes. É muito difícil sequer sonhar em construir um império ao estilo soviético", afirma. "Para os russos, é muito difícil admitir que não são mais a superpotência dos tempos da União Soviética. Acredito que os líderes russos querem retomar esse posto que tinham no mundo."

Para o vice-chanceler russo Sergey Riabkov, que esteve em Caracas no fim de semana, a aliança com a Venezuela é uma relação de negócios "muito importante, mas também muito pragmática".

"Não há condicionamentos geopolíticos de nenhum tipo", disse Riabkov à BBC, ao comentar os exercícios navais conjuntos. "Não devemos ver isso com o prisma distorcido dos tempos da Guerra Fria, porque não é esse o caso."

Espaço

A Rússia estendeu a Cuba nesta semana uma linha de crédito de US$ 20 milhões, em um gesto amistoso diante da enorme dívida que o país tem com os russos (alguns calculam que a dívida ultrapassa US$ 20 bilhões).

Para Daniel Erikson, do centro de estudos Diálogo Interamericano, em Washington, "o negócio é parte da relação mais importante para a Rússia" na região.

Erikson avalia que os laços com Moscou "fazem parte da globalização da América Latina, que é muito boa para a região".

Mas o pesquisador ressalta que a presença da frota naval russa no Caribe é uma mensagem direta de Moscou para Washington de que, caso o vazio entre o norte e o sul continue aumentando, haverá outros dispostos a ocupar esse espaço econômico e político.

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