segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Leonardo Boff: a economia especulativa não tem futuro


O teólogo brasileiro Leonardo Boff realizou esta semana uma série de conferências na Suíça sobre Igreja, movimentos sociais, pobreza, ecologia e Teologia da Libertação.

Em entrevista à swissinfo, em Berna, ele falou sobre a atual crise financeira mundial, a falta de ética da economia especulativa, os governos esquerdistas da América Latina e criticou o papa por sua "opção pelos ricos europeus".

swissinfo: Qual é a avaliação que o senhor faz da atual crise financeira internacional?

Leonardo Boff: A crise não é conjuntural, ela é estrutural. Esse tipo de economia, que transformava tudo em mercadoria e se baseava em especulação, distanciada da economia real, não tem mais futuro. Ela significou um grande equívoco, porque difamou o Estado e a política, e em seu lugar colocava a mão invisível do mercado, a concorrência, as grandes corporações multinacionais. Tudo isso não deu certo. As empresas tiveram que pedir auxílio do Estado, se deram conta de que a lógica do mercado, que é competitiva e nada cooperativa, leva naturalmente para uma grande crise. Foi o que ocorreu.

Essa crise poderá ser usada como desculpa para se abandonar de vez as metas do milênio, de reduzir à metade a pobreza no mundo até 2015?

As metas do milênio, até agora, foram pouco levadas a sério. Foi antes uma retórica das grandes empresas. Elas tiraram muito pouco de seu lucros para investir nos países pobres. Foi uma espécie de acalmar a consciência, dada a disparidade imensa entre ricos e pobres. Mas não mudou a estrutura entre riqueza e pobreza, acumulação, processo de destruição da natureza, criação de pobres e famintos, por causa desse processo econômico especulativo, devastador das relações sociais e ecológicas. Essa máquina continua produzindo pobres. E não há metas de milênio que possam superá-las mantendo essa estrutura.

Os governos dizem não ter dinheiro para as metas do milênio nem para cumprir as metas do Protocolo de Kyoto, mas gastam trilhões para salvar os bancos. O que o senhor acha disso?

Essa prática mostra a profunda falta de ética, de sentido de valor e de prioridades, com que esse sistema sem coração, materialista, cruel e sem piedade, se organizou e se hegemonizou nos últimos 30 a 40 anos. Agora ele está mais interessado em salvar-se a si mesmo do que em salvar vidas. Não era uma economia para produzir meios de vida, mas para produzir acumulação. Esse modelo entrou em crise. Não sabemos qual seguirá. Mas seguramente será uma economia que vai ser controlada pela política e vai respeitar alguns princípios éticos.

O papa disse que o colapso dos bancos mostra que "o dinheiro não vale nada"? O senhor partilha essa opinião de Bento 16?

Essa é uma visão moralista. O dinheiro não vale nada e vale tudo, porque o Vaticano também tem preocupações financeiras. O dinheiro vale, desde que ele seja uma mediação para a vida, para a realização das transformações necessárias, para encontrar formas de realizar justiça. Não somos contra o dinheiro. Somos contra o dinheiro que se faz fim em sim mesmo. Mas somos a favor do dinheiro como meio para conseguir coisas necessárias para a vida, para ajudar as pessoas e especialmente para manter o planeta Terra vivo, que é a única casa comum que temos para habitar e que essa economia especulativa está colocando em risco.

O senhor acusou o papa de estar do lado dos ricos e de ser pouco solidário com os pobres. A que o senhor atribui isso?

O projeto principal do papa é conferir um rosto cristão à globalização, e isso a partir da Europa. O projeto dele é reconverter a Europa, para que, uma vez reconvertida, ela dê uma áura religiosa à globalização. Para nós que vivemos na periferia do mundo, onde moram mais de 52% de todos os católicos, essa opção pela Europa significa uma opção pelos ricos. E a Europa mesma não está interessada em assumir essa função religiosa de dar um nimbo de espiritualidade à globalização. A Europa é uma cultura crepuscular, secularizada, tem o cristianismo pelas costas e não na frente, como uma fonte de inspiração. Esse projeto do papa é um grande equívoco e não terá nenhuma conseqüência concreta.

A "opção pela Europa" significa que a Igreja esqueceu a "opção pelos pobres"?

Ao optar pela Europa, optou pelos ricos, porque a Europa é onde os ricos vivem e estão ao lado de outros países do Atlântico norte. Os pobres não têm centralidade. Não é que o papa não fale dos pobres. Quando esteve na América Latina, falou dos pobres, dos oprimidos, de vez em quando lembra a fome no mundo, mas não é o eixo estruturador da pastoral da Igreja. Não é a grande preocupação que move a Igreja a dizer, nós queremos ser a voz dos sem voz, queremos ser os advogados dos pobres. Isso ela não é. E os pequenos apelos que faz aqui e acolá não corrigem essa falta de projeto que venha a beneficiar os pobres.

"Leonardo Boff – Advogado dos pobres" é o título do livro sobre o senhor, que está sendo lançado na Suíça. Há muitos políticos e ONGs que também se consideram advogados dos pobres. A questão da pobreza para alguns é um bom negócio?

Primeiro, este título é excessivo. Há muitas outras pessoas e organizações que são muito mais advogados dos pobres do que eu. Como teólogo, sempre tentei fazer uma Teologia da Libertação em favor dos pobres, contra a pobreza. Me mantive fiel a isso nos últimos 40 anos, apesar das perseguições. É um destino de vida. Agora, a pobreza não faz riqueza. A pobreza é um desafio à generosidade, à humanidade. As transformações políticas e sociais é que produzem continuamente e reproduzem a pobreza. Se não mudarmos essas estruturas haverá sempre pobres, tenderão a aumentar e tornarão a Terra cada vez mais degradada. Porque os pobres, por necessidade, degradam porque estão largados à sua própria sorte e porque são feitos pobres.

O que os ricos suíços e europeus podem fazer pelos pobres da América Latina?

Eu acho que eles têm que saber que pobre existe, que os pobres gritam e que eles também têm que escutar os gritos dos pobres. E fazer políticas de ajuda econômica, que é uma força de reforçar a dimensão de cooperação, de solidariedade em nível internacional.

Em Berna, o senhor fez uma palestra sobre três supostos "advogados dos pobres": Lula, Fernando Lugo (Paraguay) e Rafael Correa (Equador). O que esses três presidentes têm em comum?

O que eles têm em comum é que vêm de baixo. Eles vêm da grande articulação do poder social, que ocorreu a partir dos anos 50 em toda a América Latina. Em comum eles têm projetos sociais, que colocam os povo e suas demandas básicas de saúde, comida, eduação e habitação no centro. E os três se reportam à Igreja da Libertação. Eles se educaram dentro do cristianismo libertador. Muitos ministros de Lula vêm da Teologia da Libertação. O presidente do Paraguai era um bispo da libertação. Rafael Correa é discípulo de François Houtart, que é um dos grandes sociólogos da libertação, na Bélgica, que formou muitos quadros na América Latina, na Ásia. Correa tenta na política do Equador, como Lula no Brasil e Fernando Lugo no Paraguai, viver essas dimensões que a Teologia da Libertação colocou como fundamentais, isto é, colocar o pobre no centro. E o pobre precisa de meios de vida, precisa comer, precisa morar, precisa ter saúde, e isso eles fizeram. Então, é uma contribuição que a Teologia da Libertação deu para a política. E isso é uma glória para essa teologia. Porque o importante não é a Teologia da Libertação, o importante é a libertação concreta dos pobres.

Mas as políticas sociais desses governos não acabam alimentando o assistencialismo, a cultura da esmola, a indústria da pobreza?

Tudo o que ajuda os pobres é bom, é fruto de generosidade. Porque há políticos, há classes sociais, para os quais os pobres são carvão a ser gasto na máquina produtiva, o pobre é um zero econômico, um peso da história. Tem gente que faz políticas, embora assistencialistas, paternalistas, mas ajuda os pobres. Entretanto, não é a política mais inteligente. Política inteligente é aquela que ajuda os pobres de tal maneira que eles saiam da pobreza, que não fiquem dependentes da benemerência pública, mas se desenvolvem até se tornar autônomos. O precesso emancipatório, de criar cidadania, criar autonomia, é um momento importante da libertação.

Lula, Lugo e Correa são católicos esquerdistas. A Igreja está tomando o poder na América Latina?

Graças a Deus, não. Eles são cristãos, são leigos que têm a sua autonomia, não têm ligação institucional com as conferências dos bispos. Eles têm uma relação que um cristão tem com sua Igreja, em democracias laicas, isto é, que têm a separação Igreja-Estado, e levam adiante ideais humanitários que têm a sua origem no cristianismo, mas que não dependem da hierarquia eclesiástica, nem são controlados pelas instâncias hierárquicas da Igreja.

O que senhor diz de neopopulistas como o presidente venezuelano Hugo Chávez, cujo programa social – as "missiones" – imita o discurso da Igreja pelo menos no nome?

Chavez fez um bem enorme para o povo. Porque ele nacionalizou o petróleo e usou esse imenso dinheiro não para obras faraônicas, mas para erradicar o analfabetismo, para criar um vasto projeto de saúde, criar políticas sociais, ajudar outros países. Entretanto, como há poucos movimentos sociais na Venezuela, a relação dele é mais direta com o povo. E aí há o risco do populismo. O ideal seria o presidente articular-se com os movimentos sociais, que por sua vez se articulem com as bases, e aí há um diálogo, uma resistência, uma negociação, o estabelecimento de uma agenda comum - isso faz a democracia participativa e evita o populismo.

Muitos movimentos sociais baseados na Teologia da Libertação também passaram para o lado governista. O lado subversivo da Teologia da Libertação acabou?

É muito curioso que o MST, Movimento dos Sem Terra, o Movimento dos Sem Teto, todos eles são movimentos autônomos. Apóiam Lula porque dizem Lula é nosso, nós ajudamos a criar o Lula. E ao mesmo tempo fazem críticas profundas ao Lula, por não ter feito a reforma agrária, por ainda obedecer muito a agenda neoliberal. Eles não se deixam conquistar pelo poder. São aliados do poder. Mas não há um submetimento, uma aliança fechada. São corpos autônomos, que dialogam, colaboram, têm diferenças, mas fundamentalmente assumem o mesmo projeto de base, que é um projeto social orientado para as grandes maiorias pobres.

Quais são as suas críticas ao governo Lula?

Eu não faria, deixaria os inimigos de Lula fazer porque eles têm muitas a fazer. A única coisa que eu diria é que Lula precisaria tentar fazer a reforma agrária. Foi uma promessa de campanha, não foi feita essa reforma agrária, e a população espera essa grande revolução que seria a maior da história brasileira.

Entrevista swissinfo, Geraldo Hoffmann

Um comentário:

  1. BASTA DE MENTIRAS SOBRE EL OBISPO ASESINO DE POBRES

    El gobierno de Fernando Lugo se cobró su primera víctima en un pobre agricultor que sólo pedía un mísero pedazo de tierra para cultivar
    Un homenaje para el campesino asesinado por el gobierno del obispo Fernando Lugo, ha sido solicitado por el conocido activista y luchador por los derechos humanos Federico Tatter, en una carta publicada por el diario La Nación de la capital paraguaya.

    "Es necesaria y bienvenida toda concreción de mesa de diálogo, concertación y concreción ejecutiva de la postergada reforma agraria, pero ella no debe centrarse sobre la impunidad de los crímenes cometidos. Dicha mesa debe llamarse en su homenaje “Bienvenido Melgarejo” y jamás debe olvidarse que sus resultados surgen de la muerte evitable de dicho ciudadano. La estructura jurisdiccional actualmente no está preparada para investigar estos crímenes, antes bien, esconderlos y cubrir a los poderes fácticos que los han instalado allí, por tanto, en dicha mesa, es imperioso también resolver la más profunda investigación de estas instancias, así como su debida y constitucional remoción y reestructuración." afirma Tatter en su elocuente nota.

    Bienvenido Melgarejo, un agricultor padre de ocho niños que quedan huérfanos, fue asesinado mientras era desalojado por escuadrones subalternos al ministro del interior del obispo, Rafael Filizzola, cuando reclamaba un mísero pedazo de tierra para cultivar. EL episodio echó por tierra las ilusiones de los labriegos paraguayos con respecto al clérigo presidente, a quien la propaganda falaz de su proselitismo promocionó como "el obispo de los pobres".

    Lejos de toda solemnidad o cargos de conciencia, el obispo Fernando Lugo finalizó la semana aciaga en la que su gobierno cometió su primer asesinato, festejando en la residencia presidencial con sus amigos y orquestando un karaoke con sus amigos y el grupo musical argentino "Los Nocheros".

    Bienvenido Melgarejo es apenas uno más entre la larga lista de paraguayos asesinados por reclamar un pedazo de Tierra y Libertad.

    Tanto el Partido COmunista de Paraguay como el Partido de los Trabajadores condenaron el asesinato, y emitieron sendos comunicados que se transcriben a continuación.

    PARTIDO DE LOS TRABAJADORES
    - MANIFIESTO DEL PARTIDO DE LOS TRABAJADORES

    Estamos ante el primer luchador campesino por la tierra asesinado por el aparato represivo del gobierno de Lugo, que defendió la propiedad de Oscar Fader, un colono brasileño que posee un latifundio de 1.010 hectáreas en el distrito de Mbarakaju, departamento del Alto Paraná.

    Su nombre es Bienvenido Melgarejo, un luchador campesino de la Asociación de Agricultores del Alto Paraná (ASAGRAPA). Tenía 45 años y deja huérfanos a 6 hijos pequeños, donde el mayor tiene doce años y el menor solamente dos.

    El asesinato

    En Colonia Guaraní, aproximadamente unos 200 compañeros y compañeras sin tierra protagonizaban una ocupación en las tierras de Fader. Siendo las 10:00 horas del viernes, se presentó en el lugar un fuerte contingente de policías, antimotines, efectivos de la montada y unos 30 agentes del Grupo Especial de Operaciones (GEO) al mando de las fiscalas de Hernandarias, Haydeé Barboza y Zunilda Martínez, que venían a cumplir una orden de desalojo y "detener a 21 dirigentes".

    La orden fue firmada por la Juez de Minga Porá, Celsa Rojas, y se efectuó sin resistencia de parte de los sin tierra. Dicha acción fue promovida a través de la influencia política de la Senadora liberal Zulma Gómez y los intendentes de Mbaracaju y San Alberto, los brasileños Wilmar Alba y Romildo Maia, respectivamente.

    Cuando el operativo aparentemente estaba concluido, ambas fiscalas fueron a almorzar a la casa del propietario Fader. En ese momento, súbitamente, deciden volver al lugar para allanar una vivienda donde supuestamente había armas. Fue entonces que la policía comenzó a disparar balines de goma, gases lacrimógenos y a propinar golpes a los campesinos.

    En medio de esta brutal represión, el compañero Melgarejo recibió un impacto de bala en el cuello, producto del cual falleció media hora después. Hubo otros compañeros heridos de bala y el compañero Daniel Dominguez fue detenido.

    Fueron dirigentes de ASAGRAPA quienes tuvieron que retirar el cuerpo de Bienvenido, abandonado, en la morgue judicial para llevárselo a sus familiares. Como si no bastase con el tremendo e irreparable daño causado, la fiscalía dispuso que el vehículo que transportaba el cuerpo sea "escoltado" por un camión de la Policía Nacional, el cual estaba lleno de cascos azules que, completamente ebrios, iban gritando y riendo.

    El gobierno es el responsable

    El Partido de los Trabajadores (PT) condena y responsabiliza al gobierno de Fernando Lugo por este asesinato que, en su afán de defender la propiedad privada terrateniente, reprime, encarcela y mata a humildes luchadores sociales.

    Su Ministro del Interior, el "socialista" Rafael Filizzola, de forma groseramente hipócrita dijo que "lamentaba" la muerte del dirigente pero, a renglón seguido, sentenció contundentemente que: "Por instrucción del Presidente (…) dejamos en claro que en ningún caso el Gobierno admitirá ningún tipo de atropello a la propiedad privada. Vamos a hacer respetar todos los derechos constitucionales, principalmente el de la propiedad privada". (ABC 4-10-08)

    La propiedad capitalista por encima de la vida

    El gobierno de Lugo-PLRA continúa con la misma política de criminalización de las luchas que aplicó el colorado Duarte Frutos. El único objetivo de esta política es defender los privilegios de la clase dominante con leyes, fiscales y FFAA que tratan como delincuentes a quienes luchan contra las injusticias.

    ¡Bienvenido no era un delincuente, fue un humilde campesino, padre de seis hijos, que peleaba por un pedazo de tierra para alimentar a su familia!

    Este tipo de hechos desnudan al capitalismo y sus gobiernos de turno en su más pura esencia, donde la vida de los pobres no vale nada frente a un tractor, un terreno, unas semillas.

    Exigimos que Fernando Lugo ordene al Ministro del Interior, Rafael Filizzola, el cese inmediato de la represión a las luchas campesinas.

    Exigimos también la inmediata libertad del compañero Daniel Domínguez, quien fue detenido injustamente. Exigimos, además, el castigo ejemplar a los ejecutores del asesinato de Bienvenido.

    Asimismo, exigimos la derogación inmediata en el Congreso del Código Penal, perversa norma capitalista de represión al pueblo trabajador.

    Nuestra completa solidaridad con la familia del compañero Bienvenido Melgarejo.



    Nuestro homenaje al compañero Melgarejo, será continuar firmes, luchando por los intereses de nuestra clase y contra la sanguinaria sed de lucro de los capitalistas y su gobierno.

    ¡Viva la lucha por la tierra del campesinado pobre! ¡Vivan las ocupaciones! ¡Castigo ejemplar a los asesinos de Bienvenido Melgarejo!

    Comité Ejecutivo Nacional -Asunción, 4 de



    PRONUNCIAMIENTO DEL PARTIDO COMUNISTA: BASTA YA DE REPRESIÓN
    BASTA YA DE REPRESIÓN!

    El día 1 de del presente mes, se produjo en la localidad de Puerto Indio, un brutal desalojo de campesinos que reivindican su derecho a la tierra. En este caso del latifundista brasileño Oscar Fader, quien posee nada menos que 1010 hectáreas en el Dpto. de Alto Paraná En el operativo que tuvo ribetes criminales, falleció el compatriota campesino Bienvenido Melgarejo padre de 8 hijos. Los campesinos habían denunciado que el mencionado latifundista forma parte de terratenientes de tierras malhabidas que utilizan de forma sistemática agrotóxicos, contaminado la zona y atentando contra la vida de los pobladores.
    El Partido Comunista Paraguayo, fiel a sus principios sensibles a los problemas populares, condena el hecho y responsabiliza al Ministerio de Interior a cargo del Dr. Rafael Filizzola, quien en declaración pública, en lugar de mencionar siquiera el macabro atropello a los derechos humanos a los luchadores campesinos, exaltó la defensa irrestricta de la propiedad privada, desconociendo el telón de fondo de los medios que daban cuenta de la cruenta represión.
    El pronunciamiento de nuestro partido se realiza ante la situación planteada, responsabilizando por tanto, directamente a la Fiscalía, y el Poder Judicial detrás del cual están los sectores latifundistas, ganaderos y exportadores de soja, éstos últimos pertenecientes al sector más expoliador de nuestra sociedad, que con el uso indiscriminado de agrotóxicos atenta diariamente contra las vidas de campesinos y la degradación y envenenamiento de nuestro suelo, y servil a estos sectores también el Ministerio del Interior.
    Esta política que privilegia a los sojeros y ganaderos, contradice flagrantemente las expectativas creadas por el gobierno actual que prometió apostar a los más pobres.
    Creemos que este tipo de medidas impopulares y criminales, se suma al conjunto conservador y retrogrado de poderes fácticos privilegiados que conspira con las intenciones progresistas del actual gobierno de Lugo. Además afirmamos que si el Estado no renueva el Poder Judicial y la Fiscalía, órgano que ordena este tipo de luctuosos desalojos criminalizando las luchas sociales, ningún cambio se podrá esperar en nuestro país.
    Denunciamos además la persecución de que está siendo objeto el dirigente campesino de nuestro partido José Tomás Benítez que se suma a las víctimas del hecho en cuestión
    Finalmente hacemos un llamado a la unidad de todos los sectores populares de nuestro país para concretar en una acción conjunta, una lucha coordinada que apuntale una política real de cambio hacia una sociedad que supere la miseria y postergación de nuestro pueblo, cambio por el cual votó la mayoría de nuestra sociedad para llevar a Lugo al actual gobierno. Partido Comunista paraguayo


    PARAGUAY. LA MUERTE VIOLENTA DE BIENVENIDO MELGAREJO

    Durante la dictadura estronista 1954-1989, se han podido registrar más de 500 desapariciones forzadas y ejecuciones extrajudiciales. El subregistro es incluso grande pudiendo elevarse la cifra por las actuaciones del fenómeno del sicariato selectivo. Durante el periodo de transición, así denominado al comprendido entre 1989 y 2008, más de 100 ciudadanos han sido asesinados en la lucha por la tierra y la libertad de organización, también con un alto subregistro por la creciente actividad de los asesinatos selectivos que en el periodo se consolida como el método preferido de actuación clandestina de los factores reales de poder político y económico detrás del poder formal, vinculados incluso a asociaciones ilícitas de gran calado e influencia regional, como el contrabando, el narcotráfico, el armatráfico.
    El 15 de agosto pasado, con alta expectativa ciudadana se ha inaugurado un nuevo periodo de gobierno, dejando atrás más de 60 años de hegemonía del Partido Colorado, gran responsable material e intelectual de la mayoría de estos crímenes perpetrados por el estado o por la aquiescencia del mismo.

    El nuevo presidente, a casi un mes de asumido, en su primera intervención oficial ante la Asamblea de las Naciones Unidas, hace no más de una semana atrás, anunciaba ante el mundo entero, el fin de la transición en el Paraguay, de más de 20 años (la larga y extenuante transición española que la integró a Europa duró, dicen, 18 años), y el comienzo de una nueva era de consolidación de la democracia, las libertades y el pleno disfrute de los derechos humanos, económicos y sociales, tan largamente postergados y arrebatados por gobiernos dictatoriales, conservadores, corruptos y clientelistas. Por fin, se iniciaría en el Paraguay una era de conquista de derechos fundamentales por los que muchos compatriotas perdieron la vida.

    Pero no pasaron días para constatar la dura realidad de que los factores reales del poder conservador siguen presentes en el Paraguay, ejercen efectiva y negativa influencia en la estructura gubernamental. Ha ocurrido una muerte absolutamente evitable en un estado que considerábamos de pleno derecho y de seguridad de las personas. Y por tanto será necesario investigar no solamente las razones del especial accionar violento de los agentes estatales, como la cobertura y responsabilidad de la conducción fiscal, así como la fuerte presunción de la existencia de francotiradores ocultos emboscados, muy probablemente al servicio de terratenientes con fuerte apoyo político, todos involucrados en los sucesos represivos que culminaron en la muerte de un ciudadano.

    Y así deja sentado el comunicado de la Red Rural del Paraguay en un comunicado: “Cayó una nueva víctima de la violencia en el campo. En la democracia como en la dictadura del Paraguay, el que pone los muertos en la constante como interminable lucha por la tierra, siempre es el campesinado. Esta vez la víctima es Bienvenido Melgarejo, dirigente gremial y padre de ocho criaturas, quien fue asesinado el 3 de octubre pasado en la colonia San Antonio de Mbaracayú por fuerzas policiales que intervinieron en un conflicto de tierra”.

    En este sentido, la Red Rural no tiene dudas en señalar que “es responsabilidad del Estado, cualquiera sea el Gobierno de turno, implementar la reforma agraria de acuerdo con la Constitución y la ley respectiva. Si no se la lleva adelante es porque el Gobierno no tiene las agallas suficientes para enfrentar a los grupos de presión que pretenden acaparar los recursos naturales y los factores de la producción”.

    Continúa el comunicado sentenciando que “el Estado paraguayo es responsable de la miseria que soportan las familias paraguayas, debido a la insoportable inequidad, como resultado de una mala política y mal gobierno. En especial, es responsable de la mala y desigual distribución de la tierra entre quienes encuentran en ella un medio de vida”.

    Con respecto al accionar represivo que ha recibido presiones muy fuertes para actuar como ha quedado evidenciado en diversos medios de comunicación la Red Rural asevera que “las instituciones de seguridad están para garantizar la vida, por sobre toda las cosas. La vida de las personas está antes que los bienes materiales. Desde hace décadas, los órganos de seguridad del Estado vienen cumpliendo una función contraria; se han convertido en victimarios del pueblo movilizado priorizando la custodia de propiedades antes que la seguridad y la vida de la gente”.

    Así también, la Red Rural, al condenar y responsabilizar al Estado por la muerte de Bienvenido Melgarejo, sostiene que apoya la declaración de intenciones del Poder Ejecutivo de iniciar una mesa de diálogo con un plazo de conclusión que surge en forma posterior al asesinato, “a fin de poner en marcha un programa de mejoramiento de las condiciones de vida del campesinado, lo que ineludiblemente pasa por romper con los tradicionales privilegios que ostentan pequeños grupos de poder económico con fuertes influencias sobre el poder representativo de la Nación. Es necesario que el Gobierno entienda que implementar la reforma agraria es una tarea urgente y de ella depende la paz social del presente y el futuro”.

    La acción represiva, que culminó en la muerte de Bienvenido Melgarejo fue acompañada y avalada por la acción fiscal, así como presionada desde sectores del Parlamento nacional afines a los grandes propietarios de tierras, por tanto, será crucial que la necesaria investigación exhaustiva del crimen, se extienda también a revisar todos los entretelones del procedimiento policial, del procedimiento fiscal-judicial, de las presiones parlamentarias, de las presiones de los gremios terratenientes, de las presiones de los factores de poder zonales, y que todas sean puestas bajo una investigación jurisdiccional con especial pericia e independencia de estos factores, para que se logre el cometido que finalmente la Red Rural sentencia y exige cual es la “justicia para Bienvenido Melgarejo y su familia, que signifique la reparación material de los daños sufridos y el castigo de los culpables”.

    La justicia, el castigo y la reparación si bien todas quedan bajo responsabilidad irrenunciable del Estado y de sus agentes comprometidos en los hechos, además de lograrlos en los estrados jurisdiccionales, se deberán lograr en la conciencia ciudadana de que solo el pueblo, especialmente si está organizado, salvará al pueblo.

    El fin de la impunidad, será la única e indelegable garantía en la construcción y conquista de todos los derechos humanos, económicos y sociales. Jamás debió morir Bienvenido Melgarejo, y mientras no se resuelva su asesinato, en Paraguay no podremos hablar del fin de ninguna transición, ni del imperio pleno del estado social de derecho.

    Es necesaria y bienvenida toda concreción de mesa de diálogo, concertación y concreción ejecutiva de la postergada reforma agraria, pero ella no debe centrarse sobre la impunidad de los crímenes cometidos. Dicha mesa debe llamarse en su homenaje “Bienvenido Melgarejo” y jamás debe olvidarse que sus resultados surgen de la muerte evitable de dicho ciudadano. La estructura jurisdiccional actualmente no está preparada para investigar estos crímenes, antes bien, esconderlos y cubrir a los poderes fácticos que los han instalado allí, por tanto, en dicha mesa, es imperioso también resolver la más profunda investigación de estas instancias, así como su debida y constitucional remoción y reestructuración.
    - Federico Tatter

    ResponderExcluir